O que vem por aí...
Prólogo
Era dezembro, eu me lembrava. Em meio a toda aquela neve que
caía, eu o encontrei: sentado na grama coberta pelo manto branco, a cabeça
pendia levemente para o lado e os olhos estavam perdidos no céu estrelado da
cidadezinha de Holbrook. Eu só tinha nove anos naquela época, mas eu sabia. Eu
sempre soube. Nunca, nem se eu nascesse de novo, amaria alguém como o amei.
Porém...
Aproximando-me devagar,
fiquei observando-o por um tempo, silenciosamente, aproveitando os instantes
que restavam antes dele perceber que eu estava lá e me expulsasse. Ele nunca me
notou, e eu sabia que era bobeira me apaixonar por alguém que nem se importava
comigo, mas entenda o meu lado: eu não tive escolha. Não é como se você
decidisse por quem se apaixona. Não é assim. Se você já se apaixonou, vai
entender o que estou dizendo... só espero que a sua história seja um pouco
diferente da minha.
Nossos pais eram
amigos, mas isso nunca me deu vantagem alguma. Ele era frio, indiferente à
minha presença. No começo, eu até achei que fosse timidez, porém o tempo me
mostrou o contrário. Ele realmente não
gostava de mim. Sei o que você está pensando: "Nossa, que
masoquista". Sim, essa seria uma boa definição para mim, pelo menos
naquela época. Contudo, mais uma vez, entenda: não foi minha escolha.
Você pode estar se
perguntando: "Por que diabos ela se apaixonou por ele, então?" Minha
resposta: nos poucos momentos em que ele falava, olhava, fazia qualquer coisa
senão me ignorar, era a melhor sensação que eu já experimentara. Ele sabia ser
gentil, carinhoso, um completo cavalheiro, e por isso eu dava todo crédito à
Holly, mãe dele. Por trás de toda aquela armadura que vestia, a de menino
intocável, indolente, eu sabia que estava o verdadeiro Trent, aquele que nas
raras horas em que se permitia relaxar despedaçava meu coração com apenas um
sorriso.
Ele e a família se
mudaram naquele dia. No dia em que eu tive coragem de me declarar e dizer tudo
que ficara entalado na minha garganta por três anos. Mas, convenientemente - e
naquele ponto eu não devia mais me surpreender -, ele só se levantou, manteve
os olhos inexpressivos e brilhantes sobre os meus por alguns segundos que
pareceram décadas e saiu, passando carinhosamente a mão sobre o meu
cabelo. Ao ver seu perfil de relance,
pude notar que ele contorcia os cantos da boca, como se segurasse o choro.
Fiquei paralisada, fincada no chão, estupefata, tentando engolir o nó que se
formara na garganta. Não tive nem a oportunidade de dizer um “ai” sequer.
Foi a última vez que o
vi. Bom, pelo menos até os meus dezessete anos.
Hummm interessante :)
ResponderExcluirObrigada :)
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